domingo, 27 de setembro de 2009

AMOR ANTIGO



O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede, nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona,
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade.   


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domingo, 6 de setembro de 2009

ISMÁLIA

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Quando Ismália enlouqueceu,
Pos-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar,

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pos-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


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